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  • Foto do escritorNélia Duarte

Um dos meus primeiros óleos representa uma artéria de uma cidade sob a luz nocturna, mas o que esteve na origem disso foi a lua e não a geometria dos edifícios, dito de outra forma, calhou porque calhou e não porque sim.

Num dos meus momentos de desenho (post anterior), rabisquei muito rapidamente edifícios e se, no momento, não tinha qualquer intenção em passar para a tinta a partir desse esboço, o certo é que acabei por fazer isso mesmo. Foi assim que dei início a uma série, ao colo de de Italo Calvino com as suas (nossas) “cidades invisíveis”, e tal como a descrição que Marco Polo faz a Kublai Kan é artificiosa, assim é o meu desenho; se houvesse por aí um imperador e tártaros talvez eles conseguissem discernir (no meu desenho) o roer das térmitas.


O primeiro óleo, na cidade de Zirma, a cidade redundante, com os seus negros cegos às bengaladas nas calçadas; seguiu-se na cidade de Zobaida, a cidade branca com ruas em cotovelo porque os homens que a projectaram tiveram todos um sonho igual e, nesse sonho, correram atrás da mesma mulher para a perderem de vista e encontrarem-se uns aos outros nos percursos que viriam a ser os da cidade. Depois, na cidade de Cloé, a  grande cidade, as pessoas imaginam mil coisas umas das outras, ao se cruzarem em olhares fugazes, sem se conhecerem, sem se falarem. 


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  • Foto do escritorNélia Duarte


Sempre gostei muito da geometria dos edifícios. Especialmente dos de bairros, dos fabris, dos de cidade grande, impessoais ou onde a humanidade se sabe mas não se sente, dos distantes, brutalmente opressores pela dimensão que nos corta pontos de fuga e que inclinam paredes no nosso ângulo de visão estreito. 





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  • Foto do escritorNélia Duarte

Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades é o primeiro álbum a solo de José Mário Branco gravado em Paris em 1971; um album de generosa qualidade. É também (e a ordem  é a dos meus afectos) um poema de Camões.  

[  Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,  Muda-se o ser, muda-se a confiança:  Todo o mundo é composto de mudança,  Tomando sempre novas qualidades. ]

Dei este título ao meu último trabalho porque foi ao executá-lo que senti, pela primeira vez e inequivocamente, o quão confiante no que faço me tornei ("muda-se o ser, muda-se a confiança" como no poema). Sem qualquer hesitação no traço, na escolha de cor, na alternância rápida entre pincel e espátula, na rapidez de execução . Também, porque a forma como a mão ergue o jarro de flores me trouxe ao pensamento cravos e Abril.

 

Este é o terceiro trabalho em que me uso como modelo. O primeiro, um auto retrato, pintei, como é hábito, sem estudo prévio (usei um espelho pequeno, articulado, de mesa) Para o segundo, <natureza ociosa>, fiz um estudo prévio a carvão sobre papel.  Neste último, fiz um desenho digital e daí parti para a ideia e para o óleo muito rapidamente, embora não tivesse essa intenção ao desenhar; estava só a desenhar...



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