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  • Foto do escritorNélia Duarte

"O problema que há na minha casa é o que poderá acontecer no dia de amanhã, agora que a minha irmã Tacha ficou sem nada. Porque o meu papá com muito trabalho tinha conseguido a Serpentina, ainda ela era uma vitelinha, para a dar à minha irmã, a fim de que ela tivesse um capitalzinho, e não se tornasse puta como fizeram as minhas outras duas irmãs, as maiores." | La apuración que tienen en mi casa es lo que pueda suceder el día de mañana, ahora que mi hermana Tacha se quedó sin nada. Porque mi papá con muchos trabajos había conseguido a la Serpentina, desde que era una vaquilla, para dársela a mi ermana, con el fin de que ella tuviera un capitalito y no se fuera a ir de piruja como lo hicieron mis otras dos hermanas, las más grandes "

do livro: A planície em chamas (título original : El Llano en Llamas); conto: é que somos muitos pobres; de Juan Rulfo


#NeliaDuarte #juanrulfo #literatura #équesomosmuitopobres #méxico #jalisco



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  • Foto do escritorNélia Duarte

O vento zumbe num vórtice ao canto da fábrica onde uma folha A4 com o esquema eléctrico de um quadro desenhado adquire uma velocidade estonteante e soa num barulho de papel endurecido pelo sol e pelos chuviscos a roçar pelas arestas no pavimento; é naquele canto que a sombra engole o fumo proibido e é ali que eu quero estar, mas a folha não me dá sossego levantando refugos poeirentos que me incomodam. Afasto-me até ao limiar da sombra e a folha persegue-me planando e descendo para embater sonante; num levantamento mais ousado quase me toca o queixo e eu esbracejo e dou-me por vencida, empurro a porta e entro.


texto escrito em 2009

#artblog #escrita

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  • Foto do escritorNélia Duarte

Ela parou, abrupta, virou-se para mim e despejou tudo em alemão. Pestanejei, primeiro, depois disse-lhe ich bin Luft. O impermeável dela enfunou-se e ela aconchegou-o lançando-me uma chispa de rancor. Vendo a minha boca cerrada, ela inspeccionou-me minuciosa e estremeceu num arrepio de dúvida. Arriscou, então, de fininho: luft?, enquanto se abraçava ao impermeável e abria ligeiramente os pés para melhor se fixar ao solo. Eu não estava propriamente divertida com aquilo de lhe ter dito que era ar, eu só queria que ela percebesse que eu não a havia entendido. Depois de alguma indecisão ela afastou-se do promontório e seguiu caminho. Sorrateira virou, ligeiramente, o rosto, eu já lá não estava e ela esbracejou ao acaso, irada, tentando acertar-me na boca.


texto escrito em Março de 2006

#artblog #escrita

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