Dei forma a uma sequência da série cidades invisíveis

Não tinha ainda fechado a série “cidades invisíveis”, mas não tinha previsto que hoje pudesse sair um trabalho que lhe desse continuidade. 

Uma mancha branca com uma forma rectangular foi o suficiente para, sem insistência na observação, fazer nascer uma casa na cidade de Zemrude, logo à entrada.

2018 - óleo s/ tela - galeria "tinta fresca"

"É o humor de quem a olha que dá à cidade de Zemrude a sua forma. Se passarmos por ela a assobiar, de nariz no ar atrás do assobio, conhê-la-emos de baixo para cima: sacadas, tendas a ondular, repuxos.  Se caminharmos através dela de queixo contra o peito, com as unhas espetadas nas palmas das mãos, os nossos olhares prender-se-ão ao chão, aos regos de água, aos esgotos, às tripas de peixe, ao pepel velho. "

Italo Calvino em Cidades Invisíveis -"As cidades e os olhos"

24, dez, 2018 #oleo #literatura #cidades #italocalvino

Uma espécie de botão com ON/OF

O aborrecimento é um estado que, invariavelmente, me orienta no sentido da tela e do pincel; foi o que hoje aconteceu. Sem nenhuma ideia, fiz uma paleta de cores que eu penso sempre serem ao acaso mas já percebi que nunca são, peguei num pincel largo de cerdas e na espátula, a tela já tinha uma primeira tinta preta seca e lá fui eu para aquele plano onde a um traço sucede outro e outro e outro....

Anton Tchekhov sem rodeios afirmou o seguinte: "As obras de arte dividem-se em duas categorias: as de que gosto e as de que não gosto. Não conheço outro critério. "

Sem grandes certezas sobre o meu gosto relativamente ao que acabo de fazer, eu por agora só sei que depois de escrever isto vou preparar outra tela para um próximo momento de grande aborrecimento.

16, dez, 2018 #filosoflirt #josemariobranco

A par das tintas, o meu dia-a-dia

Há, constantemente, uma luta pela conquista no meu espaço que, simultaneamente, considero ser de mim mesma. A atenção. Desde questões desnecessárias a julgamentos indevidos passando pelas brejeirices, arrufos, queixas e quezílias, tudo se passa num átrio de 6m2 (por aí, sempre fui péssima a calcular áreas e distâncias) onde, constantemente se fazem jogos. Jogos de sedução, de medos, de conquista... Há um lado neles que me entretém e que admiro que é o sentido de humor e a inteligência. Concedo-lhes o meu lado fraterno e muitos vezes revelo-os a si mesmos. Sabem tão pouco ainda. São estes momentos de cumplicidade  que me trazem à vida e que, de algum modo, me impedem de ser uma profissional com selo de qualidade entre os meus pares. Fazem-se escolhas, umas mais acertadas do que outras, mas o privilégio está em fazê-las.

12,dez, 2018 #filosoflirt