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  • Foto do escritorNélia Duarte

Nem eu. E como eu, também ele não se sentia à vontade a falar sobre os preços dos seus quadros nem tinha jeito nenhum para isso. Ficam por aqui, provavelmente, as coincidências, e no que respeita telas inacabadas ele teria muito mais do que eu e, pelo que sei, isso não o incomodava e eu já não posso dizer o mesmo.

Aguento bem uma tela com tinta (regra geral sobras de tinta) sem que a mesma me sugira seja o que o for, mas se num dia procuro dar-lhe sentido e me perco fica difícil depois ignorá-la.

Foi o que me aconteceu com a tela abaixo, quando procurei dar-lhe um sentido na geometria e não soube como avançar fiquei ali presa, desgostosa e a duvidar de mim de cada vez que a observava. Hoje de manhã, por volta das 7 horas, observei aquelas formas e cores e vi tudo o que ali já estava e só esperava que eu lhe desse o traço. 

Ao mostrar o meu trabalho a uma pessoa especial que sabe contar-me as histórias dos meus trabalhos muito melhor do que eu, ela disse-me que era "Natal". Assim, de caras, Natal. E eu fiquei ali meio apatetada a olhar para ela e a pensar que ela estava a interpretar o meu trabalho como eu não fora capaz, até porque eu nem fã do Natal sou. Mas que estava (e está) na cara que é Natal, ah isso está!


4,dez, 2018



natal, presépio, óleo s/ tela de linho
tela inacabada (esq) tela final (dta)
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  • Foto do escritorNélia Duarte

Conheço pintores que utilizam a música como complemento da tinta e dos pincéis. Apesar do imenso prazer que a audição musical me proporciona, eu pinto sempre no silêncio e as vozes cá de casa, se dou por elas, perturbam-me.


Vem isto a propósito de algumas audições de boa música que tenho feito ultimamente e, também, da leitura que agora faço: "Ninguém ousava incomodar Picasso enquanto este trabalhava. As poucas pessoas que permitiu que o observassem a trabalhar, como, por exemplo, o pintor inglês e coleccionador Ronald Penrose, contou que ele trabalhava num silêncio absoluto" (do livro: arte do sec. XX da Taschen).

28, out, 2018

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  • Foto do escritorNélia Duarte

Picasso sempre trabalhou espontâneamente, deixando que a técnica e o estilo do tratamento jorrassem do tema a tratar. "uma pintura não é preconcebida nem predeterminada; enquanto está a ser feita, segue a inconstância da ideia", foi como ele o expôs.

Na sua obra, Picasso atravessou toda a gama de expressão e formas de pintura moderna, descobrindo incontáveis novas províncias. Mas nunca sacrificou a realidade à forma pura, estética, nem se satisfez com jogos cromáticos. A sua maneira de trabalhar - imediata e partindo inteiramente das sugestões do seu inconsciente - foi um sinal da liberdade espiritual e, em última instância, da grande tolerância que se expressou comoventemente através do entusiasmo que Picasso mostrava em relação à obra de outros artistas, em especial dos talentos mais jovens, mesmo que pouco mais fossem do que medíocres. Ao longo da vida Picasso encorajou jovens artistas e nunca os desencorajou. Essa atitude revela que a aparente arbitrariedade e inconsistência das suas contínuas mudanças estilísticas foram, na realidade, um processo lógico, independentemente da moda e efémeros estilos da altura. A única coisa capaz de pôr Picasso inseguro era a dúvida em relação a si mesmo, o que, no final de contas, é um sinal do seu espírito crítico e criativo.


transcrição do livro "Arte do Século XX" páginas 212 e 213


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