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  • Foto do escritorNélia Duarte

É o título de um livro precioso (editado pela Assírio & Alvim) que resulta de conversas entre João dos Santos e João de Sousa Monteiro. O título do livro é também a história de um menino de 10 anos que foi visto pelo João dos Santos no Hospital Júlio de Matos, há muitos, muitos anos. Um menino que vivia num estado de profundo desamparo e que um dia deixou de falar. Não dizia uma palavra, em circunstância nenhuma, fosse a quem fosse. E então é recebido pelo João dos Santos e, sem que com ele fale ou lhe dê atenção, começa a lamber, lentamente, o espaldar da cadeira onde se sentara. E o João dos Santos senta-se frente ao miúdo e começa também a lamber o espaldar da cadeira do outro lado. O menino pára de lamber, o João pára de lamber, o menino recomeça e o João recomeça. E ficam naquele jogo, interrompendo-o e recomeçando-o. Em silêncio. Até que o menino fixa o homem, levanta-se e diz-lhe: «eu agora quero-me ir embora»


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  • Foto do escritorNélia Duarte

"É sempre assim: aquilo que num momento experimentamos como indivisível e inquestionado torna-se incompreensível e confuso, quando queremos amarrá-lo com as cadeias do pensamento, tomando posse de si. E aquilo que parece grande e estranho enquanto as nossas palavras, de longe, anseiam por isso, torna-se simples e perde o que tem de inquietante mal entra no ritmo da nossa vida diária"


A propósito deste livro escrevi em 2004:

Porque somos (?) tão insolentes na certeza de que mais ninguém viveu a angústia da ambiguidade como nós a vivemos? Será porque sobrevivemos? Foi isto que me ocorreu ao ler este romance de Musil. E se me foi possível pensar isto sem estabelecer analogias de época, cultura, meio, ou, até, de algo tão vital como o despertar e a vivência da sexualidade, mais fácil me seria reconhecer a imbecilidade de me arrogar casual entre distintos mais contíguos. Ou não?... Teimo ridicularizando-me e retiro, testemunhal, da memória as palavras de quem me deu este livro. Mas como poderia ele, tão afastado do tear que me teceu e, de resto, da continuidade incessante do cruza e descruza do fio que continua a tecer-me, ter pressentido ou sabido? Talvez a solução deste aparente enigma seja, sempre foi e continuará a ser, a evidência implacável que fica registada como um estigma na textura: a solidão. A solidão com tudo o que de prodigioso e intenso ela encerra, como a capacidade de sentir 'esse silêncio repentino, como uma linguagem inaudível' (como escreve Musil num contexto de abandono) e a necessidade de imaginar as mais emaranhadas combinações e diferentes possibilidades dessa mesma linguagem.

Musil confina-nos ao colégio militar onde o jovem Törless é interno, e deixa-nos ali, suspensos, encostados à janela aberta, estremecendo a cada reviravolta, interrogação e insatisfação do jovem, na busca do equilíbrio entre o emocional e o racional.






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Nélia Duarte, a autora

Viva!


Sou das letras há muito mais tempo do que sou das imagens. É para também dar espaço às letras que começo hoje um blog neste meu site galeria onde tenho vindo a apresentar o meu trabalho de artes plásticas.


Obrigada por estar aqui.



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