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  • Foto do escritorNélia Duarte

as cidades invisíveis


Um dos meus primeiros óleos representa uma artéria de uma cidade sob a luz nocturna, mas o que esteve na origem disso foi a lua e não a geometria dos edifícios, dito de outra forma, calhou porque calhou e não porque sim.

Num dos meus momentos de desenho (post anterior), rabisquei muito rapidamente edifícios e se, no momento, não tinha qualquer intenção em passar para a tinta a partir desse esboço, o certo é que acabei por fazer isso mesmo. Foi assim que dei início a uma série, ao colo de de Italo Calvino com as suas (nossas) “cidades invisíveis”, e tal como a descrição que Marco Polo faz a Kublai Kan é artificiosa, assim é o meu desenho; se houvesse por aí um imperador e tártaros talvez eles conseguissem discernir (no meu desenho) o roer das térmitas.


O primeiro óleo, na cidade de Zirma, a cidade redundante, com os seus negros cegos às bengaladas nas calçadas; seguiu-se na cidade de Zobaida, a cidade branca com ruas em cotovelo porque os homens que a projectaram tiveram todos um sonho igual e, nesse sonho, correram atrás da mesma mulher para a perderem de vista e encontrarem-se uns aos outros nos percursos que viriam a ser os da cidade. Depois, na cidade de Cloé, a  grande cidade, as pessoas imaginam mil coisas umas das outras, ao se cruzarem em olhares fugazes, sem se conhecerem, sem se falarem. 


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