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  • Foto do escritorNélia Duarte

sou pela urgência, pela impulsividade, pelo que não pode ser contido ou demorado ou burilado, sou pelo descontrolo das mãos, sou muito mais da paixão, sanguínea, excessiva, do que sou pelo desvelo amoroso demorado que transforma com suavidade a palidez do papel em simetrias e perfeição de linhas. sou pelo que não é planeado. Sou pelo que acontece e se interpreta e percebe depois de acontecer. Sou, por isso mesmo, capaz de não sentir medo. sou isto tudo nos processos criativos.

Mas sou igualmente isto, aquilo e aqueloutro... Percebi recentemente que o graffiti é uma expressão artística que chega às pessoas, que transforma momentos quotidianos de vida num alargado número de pessoas. É uma exposição vivida. É meu desejo continuar em parede, em amplitude. A explorar novos processos, que me permitam ser como me apresentei neste texto. Qualquer desenho meu pode vir a ver parede, só preciso de uma trincha e tinta preta. "A cidade não é um lugar. É a moldura de uma vida. A moldura à procura de retrato (...)" - Mia Couto





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  • Foto do escritorNélia Duarte

Nada é pensado. Ou pelo menos eu não dou por ser. Mas depois de feito, se me der tempo a mim mesma para interpretar chego a uma compreensão que muitas vezes excede a minha própria expectativa; tudo de repente parece ser fruto de um planeamento bem estruturado com vista a representar uma ideia.

No fundo esta "habilidade" acidental podia mesmo ser um bom resumo para a história da minha vida, no que verdadeiramente interessa: a expressão da mesma.

O resto é sangue, suor e lágrimas e isso não interessa a ninguém.

Recentemente pintei duas peças que teriam que se enquadrar num tema, tema esse que me afastou no início e de imediato do propósito; só a ele voltei por me ter sentido comprometida e em dívida com a pessoa que amavelmente me fez saber do adiamento de prazos e me incentivou a participar.

Levei mais tempo a pensar que não havia nada que me ocorresse fazer e a insistir no seguimento de um esboço que fui riscando enquanto me desprezava pela inoperância intelectual do que o tempo que levei entre o começo e o fim das tintas. Quando escrevi as memórias descritivas do trabalho (obrigada por regulamento) é que percebi como tudo aquilo fazia sentido, tudo, mesmo o que eu não sabia fazer.



marcadores, tinta, A4

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  • Foto do escritorNélia Duarte


Únicos & singulares é um documentário que aborda a forma como a arte é usada na reabilitação de pessoas com experiência de doença mental. Filmado em três grandes instituições dedicadas à saúde mental, Casa de Saúde do Telhal (Belas, Sintra), Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa/ Hospital Júlio de Matos (Lisboa) e Hospital de Magalhães Lemos (Porto), o documentário acompanha grupos de utentes que desenvolvem diferentes práticas artísticas: desenho e pintura, cerâmica, poesia, teatro, coro.

"na expressão artística há mais liberdade [do que na expressão verbal de comunicação] e se de repente eu pegar num pincel e pintar um traço encarnado na parede, isto evoca-me uma coisa qualquer e a partir daí sou eu próprio que estou a comandar as minhas reações e isso organiza-me e pode criar novas oportunidades. Pode criar um mundo mais próprio e que não entre tanto em conflito com os outros. Porque uma das coisas que existe na doença mental é conflito com os outros, e o conflito é muito verbal, de comunicação" Alexandre Castro Caldas, professor catedrático de neurologia.


Fernando Azevedo, poeta, residente há dez anos na Casa de Saúde do Telhal, à questão «e porque é que escreve?» responde de pronto, «porque é necessário!»

acrescenta ainda, posteriormente, que é um maluco à sua conveniência.










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