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  • Foto do escritorNélia Duarte

"(…) às vezes a criança não sabe que tem uma coisa para dizer. Tem angustias que ela descarrega partindo objectos, estragando coisas, fazendo partidas às outras pessoas, batendo nos companheiros, cometendo actos de indisciplina na escola sem que haja uma razão plausível, uma explicação compreensível, razoável. E a maior parte das vezes a criança não tem noção de que aquilo é susceptível de ser dito.

E é aqui que entra, em grande parte, o papel da educação estética, seja em que ramo for, das artes plásticas, das artes visuais, da música ou de outra coisa qualquer, porque aí a criança cria situações, cria temas, cria cor nas ideias e isso permite-lhe uma melhor compreensão para si própria daquilo que se passa com ela." [João dos Santos em conversas com João Sousa Monteiro, publicadas pela Assírio & Alvim em "eu agora quero-me ir embora" ]

Nos últimos cinco anos da minha vida estive presente no dia a dia vivido de centenas de crianças e jovens. Não vou estar mais, pelo menos da forma tão presente como estive. Não sei se vou ultrapassar a falta que deles irei sempre sentir mas gostava muito que nunca lhes faltasse uma pessoa que os possa ouvir sem os julgar, e que também saiba respeitar os seus silêncios. "Criar cor nas ideias" tem sido a minha melhor saída para a vida. Penso ter sabido transmitir-lhes a importância desse colorido.





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Hoje vou descrever um encontro relatado por João dos Santos entre ele mesmo, na sua despedida do Júlio de Matos, e um menino desconhecido (para ele). Depois de um jogo físico inicial de palmadas e palmas o miúdo acabou por dizer ao João que ele era um velho, um velho que não prestava e que ia fazer o seu retrato em bebé com a mãe a mudar-lhe as fraldas. E começou o desenho, explicando: (...)«olha, eu faço-te de saias porque tu dantes tinhas saias e eras maricas… vou-te pôr um pescoço muito grande… um pescoço assim como uma girafa, mas vou-te pôr saias, porque tu dantes eras maricas.» (...)" E depois desenhou ainda a que seria a mãe do João dos Santos que ele disse ser zarolha porque não via bem. E João dos Santos que nada sabe sobre aquele menino e a sua família, sabe, contudo, que quando ele lhe diz «és um velho e não prestas, e vou fazer o teu retrato, um bebé de fraldas» lhe está a transmitir que ele é um tipo porreiro que aceitou a sua agressividade e sabe ser pequenino como ele. Também que gosta dele, mas não o pode dizer na frente da mãe que ali está a ouvir e a observar atenta, daí ela ser zarolha e ver mal, mas também que o João é um homem grandioso, um adulto com quem se pode conversar, com quem se pode falar e brincar, e por isso lhe faz um pescoço grande, de girafa. E ser maricas é porque ele ainda não sabe bem a que sexo pertence, ou o que é ser homem e o que é ser mulher. O título do post é o fecho do anterior - autoria: Samuel Beckett





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  • Foto do escritorNélia Duarte

Desenhos rápidos com esferográfica e aplicar-lhes cor, principalmente pastel de óleo, tem sido o meu ímpeto dos últimos dias. Tenho obtido resultados que me agradam muito.

Nesta minha série de desenhos tenho trabalhado, em muitos deles, com suporte visual de fotografia; contudo, ao contrário do que é hábito fazer-se, eu procuro sempre afastar-me da fotografia. Não estou minimamente interessada em sair-me bem na 'cópia' do modelo, simplesmente uso a foto como referência. Neste, que foi o último e um dos que mais gosto, recorri a uma foto de um dos meus rostos preferidos: Samuel Beckett. Beckett que terá afirmado: "A arte sempre foi isto - interrogação pura, questão retórica sem a retórica - embora se diga que aparece pela realidade social." - afirmação que pode ser tema para o próximo post pela importância que tem para mim.





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