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  • Foto do escritorNélia Duarte

Ao óleo a que dei o nome "a Serpentina atravessou o rio" seguiu-se, a abrir o novíssimo ano de 2019, uma segunda versão sobre o mesmo conto do Juan Rulfo. Este tem como título "antes da Serpentina atravessar o rio" que o mesmo é dizer, ainda o rio não tinha levado a Serpentina, a vaca de Tacha, que tinha uma orelha branca e outra avermelhada e uns olhos muito bonitos, em boa verdade, e bonitezas aparte, o capitalzinho de Tacha.

É pois uma versão que nos oferece uma narrativa de inserção, e não linear, neste meu novo ano de tintas.


"(...) o meu papá alega que aquilo já não tem remédio. A perigosa é a que fica aqui, a Tacha, que vai como tronco de pinheiro, cresce e cresce e já tem uns princípios de seios que prometem ser como os das suas irmãs: pontiagudos e altos e meio alvoraçados para chamar a atenção.

- Sim - diz -, vai encher os olhos a qualquer um em qualquer sitio que a vejam. E acabará mal; já estou vendo que acabará mal. Essa é a mortificação do meu papá.

||

mi papá alega que aquello ya no tiene remedio. La peligrosa es la que queda aquí, la Tacha, que va como palo de ocote crece y crece y que ya tiene unos comienzos de senos que prometen ser como los de sus hermanas: puntiagudos y altos y medio alborotados para llamar la atención. -Sí -dice-, le llenará los ojos a cualquiera dondequiera que la vean. Y acabará mal; como que estoy viendo que acabará mal. Ésa es la mortificación de mi papá. " (...)


Juan Rulfo, no livro: Planície em chamas (título original: El Llano en Llamas) - é que somos muito pobres | es que somos muy pobres


o óleo anterior a este, neste blog:

1, jan, 2019



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  • Foto do escritorNélia Duarte

Gaspard Félix Tournachon, ou Nadar como ficaria a ser conhecido organizou uma exposição em que, contrariamente ao que era então hábito, não houve júri e foram os próprios artistas que seleccionaram as obras expostas sem que nenhum especialista em arte os pudesse censurar ou excluir, alegando traição à tradição académica. Esses artistas viriam a ser conhecidos como impressionistas e sobre o movimento Pierre-Auguste Renoir disse «uma manhã, um de nós esgotou a tinta preta; e foi o nascimento do Impressionismo». A primeira exposição impressionista de Nadar foi também a primeira em que não houve júri. Tudo isto aconteceu nos finais do Sec. XIX em Paris. Não teria sido por acaso que Nadar impulsionou este acontecimento percebendo o valor artístico desses pintores e da sua nova abordagem à realidade, a sua experiência com fotografia com uma textura grosseira assemelhava-se muito às pinceladas das pinturas impressionistas.


aprender e surpreender-me; sempre
ateliê, mesa, família, livros, arte

Na literatura, Wirginia Wolfe que afirmou "sono, essa deplorável redução do prazer da vida" com a qual eu não concordo, não só porque no sono continuo a viver mas também porque o faço com qualidade fisíca e, muitas vezes, com exercícios mentais proveitosos, é considerada uma autora impressionista, assim como Rimbaud, o Poeta de quem é o poema conte que começa assim: "Un Prince était vecé de ne s'être employé jamais qu'à la perfection des générosités vulgaires" | "Aborrecia-se um príncipe porque apenas se dedicara a aperfeiçoar generosidades vulgares" (trad. Mário Cesariny).

Posto isto, e para concluir, Impressionismo já era, como se costuma dizer. E eu ando às voltas com desenho e cor mas não sei - absolutamente - se há algum epíteto (nem sei se é a palavra correcta) que um dia me faça pertencer a um movimento qualquer.

1, jan, 2019


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  • Foto do escritorNélia Duarte

Ando a ouvir com uma insistência quase doentia David Bowie. 

It's a God awful small affair To the girl with the mousey hair (…)

E a perder-me em observação demorada de imagens, como se cada pixel possa conter um universo de diferenças visuais. 

Oscar Wilde, logo no início do <declínio da mentira> o primeiro de quatro ensaios sobre estética, afirma: "a Natureza está cheia de boas intenções, é claro, mas, como disse uma vez Aristóteles, é incapaz de as por em prática." Estou como a Natureza. 


Inspiro e ouço-me num soluço tal e qual me lembro de ouvir o meu pai respirar, digo-me, «isto é da idade, uma pessoa vai-se cansando de respirar e o diafragma ressente-se» 


Não há ainda cinco minutos fiz, na net, um teste - supostamente desenvolvido no sec. XX por um psiquiatra húngaro (Leopold Szondi) - que é suposto explorar os impulsos reprimidos mais profundos de uma pessoa com base na observação de fotos especificas de pessoas e na escolha daquela que não desejaríamos encontrar de noite num lugar ermo. Com base na escolha que fiz fiquei a saber que sou uma pessoa profundamente deprimida, mas capaz de gerir todos os sintomas de uma forma controlada (nada mau).


Entretanto, enquanto escrevia tudo isto, esqueci-me do repeat musical e agora soam acordes do Neil Young, em Dead Man. 

30, dez, 2018 

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