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  • Foto do escritorNélia Duarte

Amedeu Clemente Modigliani nasce toscano em 1884 numa família de judeus sefarditas e morre em terrível agonia de doença agravada por drogas e álcool em 1920 num hospital em Paris. Modigliani, à margem da vanguarda, demonstrou, em 1915, que era possível ser artista moderno sem pertencer a nenhum movimento.


Sem renegar as referências ancoradas na tradição e mantendo-se no âmbito do figurativo, a expressão de Modigliani não deixa de ser moderna: pelo aporte diversificado da influência do cromatismo revolucionário dos fauves; pelo processo de abstração onde capta o essencial do motivo guiando-se pela sua subjectividade.

Esta situação entre o passado e o futuro confere à obra de Modigliani uma qualidade atemporal que irá impedir o seu êxito numa época em que o novo começava a ser um valor em si próprio, mas que acabará por ter sucesso posterior.


Notado por um difuso elitismo, Modigliani centrava os seus ódios na burguesia e, sensível à desgraça humana, anotou num desenho: "a vida é uma prenda: dos poucos aos muitos; dos que sabem e têm aos que não sabem nem têm". Um agradecimento especial ao Prof. N. Pereira que um dia numa conversa informal me apresentou este Amadeu; julgo que ele percebeu primeiro do que eu como eu já gostava de Modigliani sem nada conhecer do seu trabalho.



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  • Foto do escritorNélia Duarte

Segundo consta Leo Stein, que comprou a Matisse 'Mulher com chapéu' (1905), terá definido a pintura como: 'a mais horrível mancha de tinta jamais vista'.

A figura retratada, esposa de Matisse, ostenta camadas de tinta espessas que, segundo li, terá sido a técnica que lhe foi ensinada por Gauguin, numa composição cromática de cores puras sem relação directa com o tom do motivo, característica do fauvismo, e também cores frias que favorecem a tristeza e um certo alheamento na expressão da mulher. Quando foi exibido pela primeira vez foi mal recebido pelos críticos que consideraram a pintura incompreensível e ridícula. Pouco ou nada há para inventar no retrato - e na pintura em geral. Quem hoje pinta já bebeu de muitas fontes, faz umas recriações, estabelece uns diálogos com a obra de antecessores e pouco mais. Com ou sem escola. Foi a pensar nisto que fiz uma longa pausa de pinturas e do óleo que é o meio que mais me satisfaz. Fui esvaziando necessidades com alguns desenhos e um ou outro graffiti. Quando comecei a pintar interessou-me desde logo o retrato que é uma forma de inventar personagens e dar-lhes vida como se pode fazer na literatura. Tenho alguma propensão para observar e perceber (sem julgamento condenatório) comportamentos. Nada virada para a natureza morta ou para o deleite da outra, viva mas puramente natural, é nas cidades, nos lugares habitados e preenchidos de emoções que eu encontro substância para as minhas construções. Procurei sempre em volta e dentro de mim, como não podia deixar de ser dada a minha natureza genuína e orgulhosamente exigente, mas não deixei de observar a arte de pintores (essencialmente do sec. XX) como: Matisse, Picasso, Van Dongen, Modigliani, Dix, Kirchner, Klimt, porque foi observando e experimentando que aprendi o que sei. Foi pelo retrato que voltei aos pincéis, numa muito ligeira exalação dos fauves.





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  • Foto do escritorNélia Duarte

Aquele olhar de perfídia entre a fresta e a cortina que me faz lembrar Beemote ou Behemoth, só que em branco, e me desperta o desejo de ler de novo "Margarita e o Mestre" do Bulgakov. Há desenhos que não consigo ignorar, ou adiar explorar, e demoro-me neles; não sacudo a folha para a pilha de outras, apressadamente, enquanto já outra impoluta puxo a mim para novo começo. Começos sabe-se lá do quê, nem sempre sai ao primeiro traço, ou a muitos traços, cores, riscos… demoro-me, porque percebo logo que o gosto; goste-o nos olhos e nos bigodes finos, esticados, impercetivelmente a rasgar na pasta de pastel.


O meu Behenoth branco, a efectivar a frase de Fausto do Goethe que, de resto, dá o mote e alguma substância a Bulgakov

"-...mas, quem é você, afinal? - Sou a parte da força que quer sempre o mal, mas sempre faz o bem"


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