Nélia Duarte
What? (wtf)
O vento zumbe num vórtice ao canto da fábrica onde uma folha A4 com o esquema eléctrico de um quadro desenhado adquire uma velocidade estonteante e soa num barulho de papel endurecido pelo sol e pelos chuviscos a roçar pelas arestas no pavimento; é naquele canto que a sombra engole o fumo proibido e é ali que eu quero estar, mas a folha não me dá sossego levantando refugos poeirentos que me incomodam. Afasto-me até ao limiar da sombra e a folha persegue-me planando e descendo para embater sonante; num levantamento mais ousado quase me toca o queixo e eu esbracejo e dou-me por vencida, empurro a porta e entro.
texto escrito em 2009