Nélia Duarte
the last female is a pink rat
"Moonshine got me" do músico/cantor/compositor sueco Daniel Norgren ecoa nos meus ouvidos pela enésima vez (descobri-o recentemente), observo na mesa de trabalho celofane de rebuçados já chupados, pedados de papel amarrotados e outros dobrados, escritos, rasurados, anotados; post-its, a me lembrarem afazeres, colados no candeeiro, hábito recente que me ficou quando precisei repetir uma sequência para resolver um problema informático e percebi que já não conseguia lembrar-me do procedimento e, em desespero, ao pedir ajuda, uma nota binária acendeu: post-its, colega! e eu acordei para o acto.
Tenho uma tela com restos de tinta à espera. Faz bastante tempo que não sujo pincéis, vou passando o tempo entre um desenho ou outro. O dia decorre sem que eu saiba o que fazer, ensaio geometrias e um rosto; faço e desfaço; o rosto eu sei como prosseguir, mas não me sinto tentada; mais um retrato ou, eu a fugir para o retrato quando não sei o que fazer ou, eu a copiar-me no tema e, como dizia o Picasso, prefiro copiar os outros do que a mim mesma. Limpo a tinta com a espátula e retomo; desobrigada.
Quando me ligo à web percebo que é o dia internacional dos direitos da mulher, observo a imagem que produzi e o título faz-se: the last female.
