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  • Foto do escritorNélia Duarte

Só não sei ainda que título lhe dar

São muitas as vezes que pinto em telas que já estão pintadas. Por variadíssimas razões, muitas vezes porque não gosto ou deixei de gostar do que pintei, porque quero muito pintar e não tenho telas com tinta e preciso disso porque se já tiverem tinta eu tenho mais liberdade para pincelar largo, desastrada e rapidamente, também porque gosto da possibilidade de camada de tinta de tom contrastante da tinta já seca, e porque muitas vezes é no que já lá está que eu me defino no que vou realizar, pode ser um pormenor insignificante como ponto de partida ou mesmo um espaço de cor, enfim reciclo muito. Borges dizia que os seus contos ou poemas começavam por uma espécie de revelação, que de repente sabia que ia acontecer algo e isso que ia acontecer podia ser, no caso de um conto, o princípio e o fim. As minhas revelações, o que eu sei que vai acontecer, é sempre o princípio. Já não é mau de todo.

Ontem pintei numa tela que havia pintado pela primeira vez em 2016, repintado em 2019 e 2020.

Entre a primeira e a última há a concordância de alguma delicadeza de pincel fino e macio.

Da primeira para a segunda obtive o que pretendia, que era um novo trabalho por não gostar do primeiro a que, premonitoriamente, dei o nome de contrariedade. Contúdo, com o passar do tempo, o vermelho da primeira pintura saía sempre na zona clara da segunda após algum tempo. Repintei e experimentei a espátula a raspar, a tinta de baixo deixou de se fazer notar mas o resultado de tanta camada de tinta ou simplesmente porque sim, tornou-se, para mim, insuportável. Já aguardava há algum tempo na zona das telas a reciclar. Daí que ontem tenha servido de suporte a novo trabalho.

Nem sempre é possível refazer a história das minhas telas repintadas, esta foi porque encontrei fotos em backup. Aqui fica.




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