Nélia Duarte
Pomar não era fã do Natal
Nem eu. E como eu, também ele não se sentia à vontade a falar sobre os preços dos seus quadros nem tinha jeito nenhum para isso. Ficam por aqui, provavelmente, as coincidências, e no que respeita telas inacabadas ele teria muito mais do que eu e, pelo que sei, isso não o incomodava e eu já não posso dizer o mesmo.
Aguento bem uma tela com tinta (regra geral sobras de tinta) sem que a mesma me sugira seja o que o for, mas se num dia procuro dar-lhe sentido e me perco fica difícil depois ignorá-la.
Foi o que me aconteceu com a tela abaixo, quando procurei dar-lhe um sentido na geometria e não soube como avançar fiquei ali presa, desgostosa e a duvidar de mim de cada vez que a observava. Hoje de manhã, por volta das 7 horas, observei aquelas formas e cores e vi tudo o que ali já estava e só esperava que eu lhe desse o traço.
Ao mostrar o meu trabalho a uma pessoa especial que sabe contar-me as histórias dos meus trabalhos muito melhor do que eu, ela disse-me que era "Natal". Assim, de caras, Natal. E eu fiquei ali meio apatetada a olhar para ela e a pensar que ela estava a interpretar o meu trabalho como eu não fora capaz, até porque eu nem fã do Natal sou. Mas que estava (e está) na cara que é Natal, ah isso está!
4,dez, 2018
