Nélia Duarte
o meu avô tinha uns olhos de ave vistosa mas quando o chamavam de Gaio o tom talvez fosse jocoso
O que mais gosto no pastel (no caso é de óleo), e no desenho de um modo geral, é que ao contrário da tinta se pode usar de uma forma muito minimalista. O essencial. Aqui e aqui.
Hoje comecei o dia a fazer estudos e a sujar os dedos de pastel, mas acabei por deixar e ir sondar a caixa de fotografias organizada pela minha mãe e que tem retratos minúsculos de gente que eu nunca vi, não sei quem são e nem ela já sabe. Parece que era hábito oferendas de retratos. Mas também lá estão muitas outras fotografias (todas minúsculas) do dia a dia de pessoas em diferentes afazeres, algumas dessas tiradas pela minha mãe. O meu avô era um homem muito bonito, e na fotografia que dele tenho, naquele p&b de estúdio fotográfico, é possível observarmos os olhos de um azul muito claro que na foto é impresso em branco, com um contorno mais escuro e uma pupila, que se destaca a negro, ligeiramente dilatada. Ao meu avô chamavam a alcunha de Gaio por causa dos olhos. Não conheci o meu avô e não me lembro de ter observado antes com tanta atenção os seus olhos fotografados, mas o que é certo é que já desenhei (e pintei) olhos com íris de luz e pupilas de profunda sombra. Portanto, sem que tenha disso consciência, o meu avô está lá.