Nélia Duarte
com azul ultramarino
Nada é pensado. Ou pelo menos eu não dou por ser. Mas depois de feito, se me der tempo a mim mesma para interpretar chego a uma compreensão que muitas vezes excede a minha própria expectativa; tudo de repente parece ser fruto de um planeamento bem estruturado com vista a representar uma ideia.
No fundo esta "habilidade" acidental podia mesmo ser um bom resumo para a história da minha vida, no que verdadeiramente interessa: a expressão da mesma.
O resto é sangue, suor e lágrimas e isso não interessa a ninguém.
Recentemente pintei duas peças que teriam que se enquadrar num tema, tema esse que me afastou no início e de imediato do propósito; só a ele voltei por me ter sentido comprometida e em dívida com a pessoa que amavelmente me fez saber do adiamento de prazos e me incentivou a participar.
Levei mais tempo a pensar que não havia nada que me ocorresse fazer e a insistir no seguimento de um esboço que fui riscando enquanto me desprezava pela inoperância intelectual do que o tempo que levei entre o começo e o fim das tintas. Quando escrevi as memórias descritivas do trabalho (obrigada por regulamento) é que percebi como tudo aquilo fazia sentido, tudo, mesmo o que eu não sabia fazer.
